Emílio Ruivo e Maria Bonifácio não tiveram um namoro fácil.
Mas a vontade de ficarem juntos ultrapassou todas as barreiras e hoje são
casados há 69 anos.
Foi em Valado dos Frades, na Nazaré, que nasceu esta
história de amor. Apenas uma casa separava Emílio e Maria, que desde crianças
que se conheciam de vista. Maria que hoje tem 90 anos, menos três que o seu
marido, conta-nos que na altura tudo aconteceu naturalmente. “Ele começou a
engraçar comigo e eu com ele. Acabamos por começar a namorar. Mas na altura os
namoros não tinham nada a ver com os dos jovens de hoje, era muito à base de
cartas e com algum distanciamento”. Mas o trabalho e a ida para a tropa de
Emílio dificultavam a recente relação do casal. “Houve uma altura que só vinha
a casa de oito em oito dias. Depois fui para a tropa, quando regressei estive a
trabalhar nas Caldas da Rainha. Nesses anos mudei várias vezes de sítio, era
complicado. Escrevia-lhe sempre cartas”, diz Emílio com um discreto sorriso. Só
que segundo Maria, essas cartas eram sempre lidas e censuradas pela PIDE. “Na
altura as cartas que eu recebi vinham sempre recortadas. Liam tudo nesse tempo.
Por isso eu nunca sabia ao certo onde é que ele estava. Nunca conseguia
responder-lhe”.
Quando Emílio estava no Valado dos Frades tentava sempre ver
Maria sem ser da janela. Conta-nos que a senhora da mercearia chegou a
ajudá-los a encontrarem-se. “Uma vez entrei na mercearia e a senhora de lá
disse-me que ela tinha ido ao rio. Assim eu já sabia onde ela estava e podia ir
ter com ela”. Maria acrescenta que apesar de estarem no mesmo local ficavam a
olhar-se de longe com medo que os pais descobrissem. Mas o namoro nem sempre
teve pessoas a apoiar. Houve mesmo quem pagasse para estragarem a relação dos
dois. “Um rapaz que queria ficar com a Maria ofereceu dinheiro à senhora da
Mercearia para estragar o nosso namoro, mas ela não aceitou. Nós já passamos
por coisas… Até para eu lhe dar um beijo tive que mentir à minha irmã”, afirma
Emílio.
Passado três anos o namoro virou casamento. Mudaram-se para
o Barreiro embora Maria preferisse ter ficado pela Nazaré. “Ao início foi muito
difícil, deixar a minha terra e a minha família. Casei com 21 anos, com o homem
a quem dei o meu primeiro beijo, e só vim porque ele queria mesmo essa mudança.
Mas no ano seguinte tive a minha filha, que infelizmente já não está entre nós,
que me trouxe alegria e conforto nessa altura mais complicada”.
Depois de Emílio se reformar passaram a ter mais tempo para
os dois. “´Dantes íamos sempre nas excursões da associação de reformados.
Divertíamo-nos imenso. Depois começamos a ir quase todos os anos às Termas pelo
INATEL. Mas há 3 anos tive um problema grave e tive que ser operado, o que já
não nos permite fazer esse tipo de coisas”. Quando Emílio estava internado, era
difícil afastar Maria do hospital.Hoje casados há 69 anos, ambos descrevem a cara-metade como
uma excelente companhia mas de grande teimosia. Para eles a chave para manter
um casamento durante tantos anos é simples. “Sempre nos demos bem. Há alturas
que estamos mais enervados mas depois passa-nos. Conversamos muito e chegamos
sempre a um consenso. Acabamos sempre por concordar, apesar da teimosia”, diz
Maria com um grande sorriso.
Pode ler esta e outras histórias online em http://goo.gl/th4uJq
69 anos de união e cumplicidade
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