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O que falta fazer pelo Envelhecimento Ativo


A Organização Mundial da Saúde define o envelhecimento saudável como o "Processo de desenvolvimento e manutenção da habilidade funcional que possibilita o bem estar numa idade mais avançada". A Directora Geral da OMS, Margaret Chan afirma que "envelhecimento saudável é mais do que a ausência de doença. Manter a habilidade funcional tem a maior importância", mas esta noção tarda em chegar a Portugal. Continuamos a trabalhar de modo a evitar ou diminuir a doença e não a promover a funcionalidade.

Se analisarmos a vida como um todo, enquanto seres humanos, podemos concluir que o resultado mais favorável possível é o de construir, manter e viver até ao fim da vida uma independência funcional. Para isso são necessárias mudanças individuais, sociais e institucionais, todas elas importantes e correlacionadas se o objectivo é promover a saúde e o bem-estar durante toda a vida, e neste caso nos seniores.

#Mudança de Mentalidade Individual

Referimos as mudanças individuais por uma razão óbvia, sem estas todas as outras são em vão. Tem de existir uma vontade pessoal e intrínseca de viver bem a vida toda. Se forem feitas as mudanças sociais e institucionais necessárias, mas mesmo assim as pessoas não tiverem esta vontade, de pouco vale. Como é costume dizer-se, não podemos ajudar alguém que não quer ser ajudado, ou pelo menos torna-se muito mais difícil. Esta noção aplica-se a quase tudo. Primeiro é necessária uma vontade inabalável de mudar de mentalidade. A ideia do "não sou capaz..." ou "já não tenho idade para..." são desculpas para ficarmos na zona de conforto, e terão repercussões mais tarde.

#Mudança de Mentalidade Institucional

As instituições podem ser definidas como "organizações ou mecanismos sociais que controlam o funcionamento da sociedade" ou "organismos que cumprem uma função de utilidade pública". As pessoas representam-se através das instituições, porque através da maneira como estas pensam, agem e sentem, determinam valores e comportamentos que visam satisfazer as necessidades da sociedade, manter a democracia, a justiça os direitos humanos, a igualdade e a cidadania.

São o espelho da nossa sociedade, mas ainda deixam muito a desejar no que diz respeito a promover o envelhecimento saudável. Com isto não queremos dizer que não existam instituições que cuidam bem dos idosos necessitados e que façam excelentes trabalhos de solidariedade. Mas no que diz respeito ao envelhecimento saudável ainda são demasiado conservadores. Há que alterar o conceito e difundi-lo verticalmente, desde as instituições mais pequenas e com menos responsabilidade às de maior poder e influência. A ideia de vida ativa e saudável deve começar na escola, assim como a  promoção do envelhecimento funcional tem de ser implementado em todas as instituições, sejam sociais, políticas, religiosas, de caridade, educacionais, científicas, entre todas as outras.

#Mudança de Mentalidade Social

Por fim, é de extrema importância mudar a forma como encaramos socialmente o envelhecimento.
Enquanto predominar o preconceito de que a vida piorar drasticamente após os 65 anos, enquanto não se valorizarem as pessoas seniores pelas suas capacidades, em vez de apontarmos as incapacidades, enquanto houver medo de envelhecer, enquanto existirem problemas de assumir a idade com orgulho, enquanto estigmatizarmos as pessoas como "pobres velhinhos" há muito caminho a percorrer. As mudanças sociais devem ser na direcção de promover a saúde, a funcionalidade, a independência e a celebração da vida a qualquer idade, em vez de promovermos uma vida o menos doente possível, o consumo desregulado de comprimidos, a infantilização dos idosos e iminência de uma vida dependente e assistida. Para muitos promover a saúde e promover o mínimo de doença possível pode ser semelhante, mas a diferença é enorme.

Como já referimos, todas estas mudanças estão interligadas, cada uma influencia a outra. Uma mudança individual pode influenciar uma mudança institucional que por sua vez pode influenciar uma mudança social, e vice versa. Mas se as mudanças de mentalidade são necessárias, outro tipo de intervenções também são importantes;

Onde Intervir?

Se o foco principal é viver de forma saudável, funcional e independente, primeiro há que identificar quais são os factores de risco que levam as pessoas à incapacidade e à dependência. Esse deve ser o foco das acções de saúde pública direccionadas aos adultos e à população sénior. As intervenções devem incidir em factores de risco que sejam controláveis e possíveis de modificar e dar-lhes relevância segundo o nível de "proximidade":

1 - Factores de Risco Próximos: Aqueles que se relacionam com as doenças e as debilidades como é o caso da hipertensão, má nutrição e diabetes, humor, deficiências cognitivas, distúrbios músculo-esqueléticos, fragilidade e prescrições médicas inapropriadas.

2 – Factores de Risco Intermédios: Relacionam-se com os hábitos de saúde e os comportamentos não saudáveis, como o consumo de tabaco, álcool e outros vícios, ou um estilo de vida sedentário e uma dieta pouco saudável.

3 – Factores de Risco Distantes: Mais difíceis de mudar, ainda assim não são impossíveis, os factores de risco mais distantes podem ser o contexto económico, a educação e determinantes socio-culturais, a poluição atmosférica ou a exposição ao barulho e ao Sol.

4 – Factores de Risco Não Controláveis: Representam os factores de risco impossíveis de mudar, pelo menos até à data, como é o caso da genética, etnia, género, Q.I ou contexto familiar. Visto que não são controláveis não devem ser o foco das intervenções de promoção da saúde ao longo da vida.


Como Intervir Na Promoção do Envelhecimento Ativo Na Idade Adulta?

Já por várias vezes a REVIVER defendeu a importância de promover o envelhecimento ativo e saudável o mais cedo possível, onde as instituições de ensino podem representar um papel essencial. Contudo, não menos importante é promovê-lo junto das pessoas que já estão na idade sénior ou próximas dela. Com base no artigo "Michel J-P, et al. Healthy ageing: Evidence that improvement is possible at every age. Eur Geriatr Med(2016)" referimos 4 tipos de intervenções que demonstram que hábitos e comportamentos saudáveis durante a "segunda fase" da vida podem melhorar a capacidade funcional mesmo em idades mais avançadas.

#1 – Intervenções Focadas em Hábitos e Comportamentos Saudáveis

        Desporto e exercício físico durante a "segunda parte" da vida tem vantagens comprovadas, e fazem uma diferença evidente na qualidade de vida.
        Uma dieta adaptada durante a idade adulta modifica bastante a saúde. A mais aconselhada é a dieta mediterrânica.
        Adultos não fumadores tem mais probabilidade de viver mais tempo e com mais saúde. O tabaco é responsável por milhões de mortes prematuras no Mundo.
        Contrariamente ao que alguns estudos fizeram crer, o consumo de alcoól moderado não aumenta a longevidade.

#2 – Intervenções Focadas em Doenças que Aumentam a Debilidade e a Mortalidade

Segundo Michael J-P, dois grupos de doenças crónicas merecem ser identificados neste tipo de intervenção. As doenças que não só aumentam a mortalidade mas, em caso de sobrevivência são também causa de debilidade formam o primeiro grupo. Um segundo grupo formado pelas doenças geriátricas clássicas que não causam directamente a morte, mas aumentam a debilidade. O autor ainda refere um terceiro grupo que não é normalmente tido em conta que são os efeitos adversos dos medicamentos e receitas mal prescritas, que também é preciso abordar. Assim é sugerido:

        Plano de Vacinação Para o Longo da Vida. Segundo a OMS mais de 2.3 milhões de mortes são prevenidas anualmente graças às vacinas, mas assinala uma disparidade enorme entre as crianças e os adultos, o que reflecte crenças e atitudes erradas perante a vacinação.
        Intervenções nas doenças cardiovasculares, renais e neurológicas durante a meia idade. Cada uma delas pode ser responsável por uma maior dependência ou morte, e por isso é importante indentificá-las enquanto ainda são reversíveis e demonstrar que a prevenção é útil mesmo em fases mais avançadas da vida.
        Prevenção da Diabetes. Assim como no ponto anterior, esta doença silenciosa precisa ser identificada enquanto pode ser reversível. Os seus factores de risco estão bem identificados mas 1 em cada 5 pessoas que sofrem de diabetes não sabem disso.
        Prevenção de doenças respiratórias crónicas, como é o caso da asma.

#3 – Intervenções Focadas em Doenças Crónicas Que Mais Aumentam a Debilidade

        Prevenção na meia-idade do declínio cognitivo e da demência. Os factores de risco modificáveis são bem conhecidos e devem ser tidos em conta.
        Prevenção na meia-idade de doenças musculo-esqueléticas como a osteoporose, a osteoartrite e a sarcopenia.
        Prevenção na meia-idade de deficiências sensoriais relacionadas com a idade, como a visão, audição, olfacto e a função vestibular (equilíbrio e noção de espaço).
        Medicação e o seu potencial efeito negativo em dependências associadas à idade.

#4 – Intervenções Focadas na Fragilidade

        A potencial reversibilidade espontânea da fragilidade. Esta pode ser caracterizada por perda de peso involuntário, exaustão, pouco consumo de energia física, marcha lenta e fraqueza de mãos e pulsos para apertar/agarrar. Mas pode ser reversível.
        Factores de risco ou não associados à transição do estado de fragilidade, como por exemplo AVC's, cancro, osteoartrite.
        A mistura dos resultados de testes de controlo para reverter a fragilidade, como por exemplo suplementos de proteína-energéticos apenas, são menos eficazes que o exercício físico, mas os dois combinados são mais eficazes que qualquer um individualmente.


De modo a podermos realmente promover o envelhecimento ativo, temos de ter estas mudanças e estas intervenções em conta. Todas elas podem ser úteis a qualquer idade, mas o envelhecimento não começa aos 65 anos, começa desde o momento em que somos concebidos. Por isso, quanto mais cedo estas noções foram implementadas e abordadas melhor será o curso da nossa vida.
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