Historiador, investigador de história medieval, jornalista,
editor literário, professor, escritor e pintor. Depois de ter desempenhado
todas estas funções, claramente Jorge Figueiredo é o homem dos 7 ofícios. Não é
difícil perceber, que a velha máxima “parar é morrer” sempre foi o lema de vida
do protagonista desta história.
Jorge Figueiredo chegou aos 80 anos com um currículo
invejável e com uma enorme vontade de continuar a enriquecê-lo. Nasceu em Sermonde,
Vila Nova de Gaia, mas a sua vida foi construída em sete cidades diferentes de
Portugal. Começou a trabalhar quando atingiu a maioridade e desde esse dia nunca
mais parou. “Comecei a trabalhar aos 18 anos, depois de ter suspendido os meus
estudos secundários. O meu primeiro emprego foi no Grémio dos Armazenistas de
Mercenária, fazia funções de secretaria. Fiquei contente porque ia aprender a
trabalhar com horário e disciplina. A partir daí, comecei um longo percurso na
minha vida”. Foi o primeiro passo numa extensa carreira profissional.
Durante vários anos integrou os serviços de fiscalização de actividades,
correndo o país de norte a sul. Mais tarde optou por uma vida sedentária, como
o próprio gosta de designar, e empregou-se no Banco de Angola onde permaneceu
até 1978. Mas foi nessa altura que percebeu que era o jornalismo que preenchia
o seu coração. Por isso, lutou para ver o seu sonho realizado e conseguiu-o.
“Comecei por ser redactor no Diário Ilustrado, estive na Imprensa Nacional –
Casa da Moeda onde fui director editorial, fui colaborador literário do Diário
de Notícias, Diário Popular, Diário do Minho, entre muitos outros jornais
regionais”. Foi essa paixão que o fez fundar o jornal “Terras de Bandarra” e
ser o autor do primeiro livro sobre castelogia escrito em português “Os
Castelos de Portugal”.
Jorge sempre foi um apreciador da arquitectura histórica e
da cultura. Talvez por isso, sempre teve a força necessária para atingir os
seus objectivos pessoais e profissionais. “ Na altura que fundei o jornal
terras de bandarra, concluí a minha licenciatura em História, na Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa. Tinha 56 anos. Nunca achei que era tarde para
o fazer, sabia que me era útil e poderia abrir-me novas portas.” E as portas foram-se abrindo uma a uma. Paralelamente à sua
actividade profissional, Jorge Figueiredo foi acumulando múltiplas funções na
área da cultura. “ Tenho estado grande parte da minha vida ligado à cultura.
Exerci cargos na Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos, no Património
XXI e fui membro honorário do concelho científico da Europa Nostra/IBI da
Unesco. Presidi também inúmeros congressos, simpósios, jornadas e colóquios
sobre Arquitectura Militar e Cultural em Portugal e Espanha. Presidi a EXPOAR
72, que foi a II Exposição Internacional de Aeronáutica e Astronáutica. Por
fim, para não parecer interminável, fui professor do secundário e
universitário, participei com o meu amigo Orlando Neves, já falecido, em vários
encontros de poesia e fui Director do Gabinete de História da Câmara Municipal
de Trancoso”, termina suspirando.
Mas foi na reforma que Jorge dedicou mais de 25 anos em prol
da cultura. Foram poucos os momentos que alguém o viu sem nada para fazer,
porque para este homem estar inactivo não é viver. “ Estou reformado há vinte e
tal anos por motivos de doença renal. Todavia, isso não me impediu de continuar
a trabalhar na cultura, com o incentivo do Presidente de Trancoso. A defesa dos
valores históricos sempre me entusiasmou. O meu livro “ Trancoso – Dez anos de
Cultura” demonstra bem que nunca estive inactivo, nem lá, nem em lugar nenhum,
porque não sei o que é estar inactivo”.
E pelos vistos os seus feitos pela cultura portuguesa não
passaram despercebidos. “Fui condecorado pelo antigo Presidente da República
Mário Soares a 10 de Junho de 1995 como Comendador da Ordem de Mérito. Acho que
me deram mérito pelo que eu fiz, ao longo da vida já recebi várias homenagens
relacionadas com a cultura. Sabe sempre bem quando nos reconhecem valor”,
afirma com um sorriso.
Estar sem trabalhar é algo que o assusta. Mas o avanço da
tecnologia permitiu-lhe continuar a fazer aquilo que tanto gosta. “Enquanto eu
puder trabalhar está tudo bem para mim. Os meus computadores permitem-me
trabalhar em casa. Aprendi a escrever nesta deslumbrante invenção com 71 anos,
depois de décadas a matraquear numas velhas máquinas de escrever que guardo
religiosamente”.
Hoje em dia, Jorge continua a ser um privilegiado a
trabalhar naquilo que lhe dá tanto prazer. “Agora trabalho mais a nível mental.
Leio, investigo e escrevo. Estou a preparar quatro obras de investigação
histórica, para publicar, um livro de memórias e um romance. Neste momento mil
páginas já estão no computador, só falta metade. Depois dedico-me à pintura,
principalmente de castelos, já tive os meus quadros expostos numa galeria em
Santarém, onde actualmente estou a viver”.
Jorge Figueiredo é uma pessoa ferozmente activa, capaz
de fazer inveja a qualquer jovem. Disfruta de cada minuto que a vida tem para
lhe oferecer e promete continuar a trabalhar até poder. O pouco tempo livre que
lhe sobra guarda-o para aproveitar com a sua amada, a sua irmã, os seus três
filhos e os quatro netos. Sem dúvida que é um exemplo que a velhice não passa
de um estado de espírito.
Uma reforma em prol da Cultura
Reviewed by Unknown
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12:31:00
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PARABÉNS! Grande entrevista... grande homenagem.
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