Que Portugal
está a passar uma grave crise já todos sabem, mas nunca pensei que a crise
fosse tão extensa ao ponto de afectar o carácter dos portugueses. Sentem-se na
plateia, com olhos atentos. Descobrirão que por detrás da cortina vermelha
existe um baile de máscaras e uma bandeira hasteada, verde e encarnada, com uma
esfera armilar no meio. Como se neste país fosse carnaval todos os dias. Quando
ao cair do pano a única coisa que conseguimos fazer é desfilar como um pavão, a
primeira pessoa a quem mentimos é a nós próprios. Algo está mal quando, por
amor ao gabanço, a nossa identidade se torna de plástico.
A evolução aproximou-nos de um Mundo cada vez
mais artificial, é certo, mas será necessário mostrar que também o nosso carácter
é artificial? Agora vejo que, o verdadeiro problema de Portugal são os que se
auto-intitulam de tudo e que têm rótulos de todas as cores, sem nunca admitirem
que são de plástico. E não é a classe social que o define, é a falta de
carácter. É o querer ser tudo e na verdade não ser nada. É pregar à extinção da
luz do Sol, para que só a luz do holofote incida sobre o plástico. Para que
todos vejam e admirem, se espantem e aplaudam. Pessoas que vivem trancadas no
seu Eu, onde até o gesto mais solidário é por benefício próprio.
Ser a cópia
barata da criação. A síndrome da Loja dos Chineses como eu lhe chamo.
Alastra-se pela nação e rouba-nos a identidade. Tudo o que é genuíno é ofuscado
pelo holofote, sobreposto pela falta de ideias, falta de talento e de
criatividade. Feito para inglês ver. A verdade é que um país é o reflexo do seu
povo. O que reflectimos nós quando nos olhamos ao espelho? Se é que nos olhamos
ao espelho. No país dos senhores doutores, pintam-se quadros para que lhes
chamem pintores. O que ganha quem genuinamente se entregou para alterar o rumo
das coisas? Uma visão sobre este país altamente descredibilizado, onde
mundialmente já fomos referidos como “o bom aluno”. Esse é o reflexo do nosso
país e o reflexo do seu povo. Onde é mais fácil caminhar como um pavão por ser
uma cópia barata, do que valorizar quem enfrenta as verdadeiras adversidades da
vida e mesmo assim se mantém de pé, sorridente, orgulhoso e digno, pronto a ajudar
quem realmente tem valor. Esse é o povo que merecemos ter. Um povo que,
independentemente dos títulos e estatutos, se mantenha unido, forte e digno.
Onde se valorize quem se esforça por melhorar o bem comum e não quem procura
encher o peito e comer o que é dos outros. As pessoas artificiais têm o valor
que lhes damos.
As Lojas dos
Chineses ficaram conhecidas por venderem produtos, muitos deles copiados, a
baixo preço. E Portugal? Que valor tem no mercado?
António Ramos
EDITORIAL: Síndrome Loja dos Chineses
Reviewed by Unknown
on
07:21:00
Rating:
Sem comentários: