Várias
foram as reproduções do vídeo “Wrecking Ball” da cantora Miley Cyrus que se
tornaram um sucesso na internet. Uma delas foi a versão do Centro Comunitário
da Gafanha do Carmo, que se destacou pelos intérpretes serem todos seniores e
residentes do Centro. Com as atenções viradas para um melhor envelhecer, esta
actividade espelha bem o sucesso quando se marca pela diferença. Muitos foram
os comentários que diziam que este vídeo era até melhor que o original. De
facto elevou o nível no tão falado envelhecimento ativo, num mundo que continua
a ficar espantado quando as pessoas mais velhas fazem algo de diferente ou
ousado. A paródia ao videoclip de Miley Cyrus realça bem a cumplicidade
existente no Centro entre os profissionais e os utentes. Outro dos seus vídeos
marcantes é “Dicas para a felicidade” onde os intervenientes, também utentes e
já com experiência de vida, partilham conselhos e dicas para se ser feliz,
resultando num vídeo muito bonito e emocionante. Esta iniciativa de realizar
vídeos e partilha-los nas redes sociais, acabou por ser mesmo das actividades
mais apreciadas pelos residentes.
Para Analide Silva Maia, de 85 anos
e residente há dois, o vídeo da “Wrecking Ball” foi mesmo o seu favorito. “O
que mais gostei foi o da Miley Cyrus, Wrecking Ball. Não só pela diversão que
tivemos ao fazê-lo mas também por ter sido tão divulgado nos meios de
comunicação social. Adorei ir à televisão e à rádio” diz-nos. Analide que
conheceu o Centro Comunitário da Gafanha do Carmo através da sua filha. Diz
também que mal o visitou gostou logo. “Em casa não tinha muita oportunidade de me
ocupar. Aqui todos os dias aprendemos sempre algo novo, estamos sempre em
actividade ou a planear alguma coisa para nos ocuparmos”
José António Coelho de 83 anos é
residente desde a abertura do Centro. O antigo GNR que “não trocava esta sua
casa por nada”, diz que fazer vídeos e ter oportunidade de os divulgar é uma
das coisas que mais gosta. “Todas as atividades são marcantes mas posso dizer
que as minha preferidas são os vídeos. O que mais gostei de fazer foi o Harlem
Shake. Outra atividade que me marcou foi a peça de teatro “Recomeçar” onde fui
o actor principal. Adorava repetir essa peça”.
João Lopes Oliveira, de 58 anos, é
residente há um ano e também tem os vídeos como a sua actividade favorita. Para
além disso destaca o companheirismo, o diálogo e a participação activa dos
utentes na dinâmica da casa.
Segundo o Animador Sóciocultar do
Centro, Ângelo Valente “Os vídeos surgiram deste espirito de investir na
felicidade e vontade dos clientes. E realmente aquilo que verificávamos é que
os nossos clientes gostavam de partilhar as coisas que viviam/aprendiam
diariamente com as pessoas que mais gostavam, como familiares (a maioria
emigrados), amigos e até funcionários da instituição que por algum motivo não
estavam presentes. Desde aí apostamos na publicação de fotografias e vídeos na
página do facebook do Centro, e realmente o feedback tem sido fantástico. A
reacção das pessoas a cada fotografia e vídeo é sempre divulgada a todos os
utentes e muitas vezes já são até reconhecidos na rua”. A adesão às
iniciativas foi tal que hoje em dia já os próprios residentes dão as suas
ideias para futuros vídeos.
A gerontóloga Sofia Nunes, diz que a
aposta na felicidade individual de todas as pessoas envolvidas no projecto é a
fórmula mágica para o sucesso. “Este dinamismo foi algo construído ao longo do
tempo. Graças ao espirito altruísta, inovador e audacioso da Direcção” diz-nos.
A verdade é que quem acompanhar o trabalho do Centro nas redes sociais,
descobre que qualquer dia pode ser um dia de festa, digno de ser recordado
digitalmente e partilhado com o Mundo na internet. Relaxar junto à ria, uma
tarde na esplanada, um passeio matinal, um almoço solidário ou até ver os
ciclistas da Volta a Portugal em
Bicicleta a passar a alta velocidade, os residentes fazem questão de
poderem partilhar todos esses momentos.
São pequenas acções, muitas vezes
simples, que fazem toda a diferença no que toca a qualidade de vida e relações
interpessoais. “As principais mudanças é realmente as relações significativas
que se criam. Muitas vezes, pessoas que se encontravam fechadas no seu próprio
mundo e que não gostavam de interagir com outros agora são as primeiras a tomar
iniciativa para a realização de atividades e criaram aqui grandes amizades.
Além disso, vê-se um aumento significativo na auto-estima de quase todos os
clientes, bem como uma melhoria geral no estado de saúde” diz-nos Sofia Nunes.
Não podemos deixar de falar do Vadio, o cão que foi adotado pelo centro e que hoje é um membro da família, presente em todas as atividades. Para além de demonstrar o seu afeto com os residentes ajuda-os a melhorar as suas capacidades sociais e bastou uma festa na cabeça para o convencerem a fazer parte da família.
Deixar um familiar aos cuidados de outras pessoas continua a ser uma decisão sensível. A verdade é que em 2013 a Segurança Social encerrou 89 lares e 83 em 2012. Quaisquer que sejam as razões para estes encerramentos, criam sempre um impacto negativo às pessoas que têm de tomar a decisão de internamento de um familiar. Porém, não significa que não existam opções viáveis e de qualidade. É preciso uma escolha minuciosa, atenta e que se foque acima de tudo nas necessidades individuais de cada pessoa. Aos visitantes,
o Centro Comunitário da Gafanha do Carmo deixam a promessa de muita alegria, música e felicidade, não só da parte dos colaboradores, mas também dos residentes.
Centro da Gafanha do Carmo: Um exemplo de originalidade
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