Tenho utilizado este espaço editorial para partilhar com
quem o lê, a minha opinião relativamente a temas que, dentro do possível marcam
a atualidade. Tento, numa página, falar de assuntos de cariz político e social,
que me interessem e aos quais ache importância. A relação dos seres humanos
entre si e com a tecnologia, dos governos com as pessoas, das pessoas com as
guerras. Enfim, fenómenos que se passam no Mundo e que me inspiram a escrever,
a ter uma opinião formada, uma posição tomada. Mas, desta vez foi diferente.
Desta vez foi uma conversa por email com uma leitora da REVIVER que me
inspirou. Normalmente as opiniões em relação ao nosso slogan dividem-se
dicotomicamente. “A Velhice Não Passa De
Um Estado de Espírito”. É isso que nós na REVIVER defendemos, e
demonstramos. Há quem diga “muito bem” e quem diga “muito mal”. A leitora que
nos escreveu estava nesse pólo negativo. Explicou-nos o porquê de não concordar
com o nosso slogan e nós compreendemos perfeitamente. Acontece que quando
vivemos no escuro, é difícil ver a vida a cores. Essa é a experiência que a
nossa leitora tem com a velhice. Cheia de boa vontade, é voluntária num lar
onde procura fazer companhia a quem lá vive, ouvi-las, compreendê-las e
apoiá-las. Mas quanto mais se dedica, mais frustração se acumula, porque a sua
opinião relativamente à instituição em causa vai de mal a pior, desde os
utentes, aos profissionais. A impressão com que fica da velhice, dada a sua
experiência, é que basicamente é uma dolorosa e triste espera pela morte. Não
me alongando muito mais, até porque o email foi privado, serve apenas de nota
introdutória para o que escrevo a seguir, para o porquê de, na nossa opinião, a
velhice não passar de um estado de espírito, na esperança de que possam
partilhar do nosso ponto de vista, e se possível persuadir aqueles que sejam de
opinião contrária.
Para algumas pessoas pode parecer estranho, mas a morte
não é um assunto que nos interesse. E dirão os brutos “O quê?! Uma revista para
velhos e não falam da morte?!”. Não é que seja tabu para nós e não foi por
falta de oportunidade de falarmos sobre o assunto, até porque já houve quem nos
enviasse textos para publicarmos, em que esse era o tópico principal. Mas não
nos interessa porquê? Porque se o nosso slogan pode criar diferentes tipos de
opinião, o slogan da morte não cria de certeza, e seria algo como: Morte “Podes Correr, Mas Não Te Podes Esconder”.
Por isso, é a vida que é uma longa espera pela morte, não é a velhice. Quantas
pessoas novas não terão morrido aos olhos duma pessoa com 100 anos?
O drama e a tragédia afectam todas as pessoas nalguma
altura das suas vidas, e não há ninguém que consiga estar com uma boa energia
durante a vida toda. Todos temos necessidade e direito à tristeza, ao luto e às
lágrimas. Mas se permitirmos que a nossa vida seja consumida por esses
sentimentos negativos, infelizes e miseráveis vinte e quatro horas por dia,
todos os dias, aí sim estamos velhos. E não é a idade que importa nem define
essa velhice. Há quem não tenha grandes opções na vida, principalmente aquelas
pessoas que por doença são forçosamente limitadas, e até essas muitas vezes são
uma lição para quem só sabe queixar-se e andar carrancudo. Procurar a
felicidade é uma opção pessoal e uma inclinação espiritual. Há quem seja
negativo a tudo, quem tenha necessidade de criticar tudo, quem tenha uma aura
negra sobre si. Essas pessoas sim, vivem à espera da morte. Agora existem
aquelas pessoas que, independentemente das adversidades procuram sempre um
amanhã feliz, que podem chorar hoje, mas sabem que um dia vão voltar a sorrir.
Ninguém encontrará a felicidade se estiver focado na tristeza, até porque a
felicidade é composta por breves momentos, o que implica uma busca atenta e
constante. Quem ler o Dhammapada, poderá encontrar uma passagem em que Buddha
diz que “a mente antecede todos os estados mentais”, e isto reflecte
exactamente o que diz o nosso slogan. A velhice não passa de um estado de
espírito, porque pertence àqueles que não se permitem ser felizes, novos ou
não. A idade pertence ao tempo e à vida, a velhice pertence a nós próprios, e
não podemos obrigar ninguém a ser feliz, porque essa é uma luta pessoal. Com
outra citação digo “façam o favor de ser felizes”, até porque sorridentes ou carrancudos,
todos morremos na mesma.
Por: António Ramos
EDITORIAL: Não Posso Obrigar-te a Seres Feliz
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