Para aqueles que não o conhecem, a REVIVER faz questão de
apresentar. O Mestre Hilário Roberto é pintor há mais de 50 anos. Embora a sua
visão não seja a mesma, hoje continua a criar obras magnificas que encantam os
olhos de qualquer um. Aos 85 anos de idade, este grande pintor, conta-nos a sua
história com a boa disposição que o caracteriza.
Quem é o Hilário Roberto?
Quem sou eu? De mim posso dizer que nasci em 1927. Tive uma
infância razoável, estudei até ao antigo quarto ano. Na altura não quis estudar
mais e fui trabalhar com o meu pai para o seu talho. Depois veio a II Guerra
Mundial e com ela a crise. Fui sozinho com o meu pai para África, as coisas não
correram bem, fiquei lá mais dois anos sozinho e regressei. Vim trabalhar para
Sacavém, pintava painéis religiosos, fiz um cristo em azulejos que chegou a
estar exposto na Av. Da Liberdade, mas isto pela fábrica. Ganhava na altura
muito bem, cerca de 60 contos, mais do que muitos Ministros na altura. Mas
depois quis começar a traçar o meu percurso livremente e nunca mais tive nenhum
patrão. Tornei naquilo que ainda sou, pintor.
Como nasceu a paixão pela pintura?
Não foi algo que eu soubesse desde sempre. Nos tempos de
escola eu já gostava de desenhar, as minhas melhores notas sempre foram nas
disciplinas de desenho, como é que acha que eu conseguia ter uma média
razoável? (Risos) Mas eu não pensava em pintar. Até que um dia fui a casa de um
amigo meu que é actor e ele convenceu-me a pintar um quadro. Nessa altura fazia
alguns quadros, mas deitava muitos fora, não gostava do resultado, achava que
aquilo não era bom. Depois comecei a ir ver muitas exposições de pintura, a ler
muitos livros e a adquirir novos conhecimentos. Mas só por volta dos trinta é
que comecei a pintar profissionalmente.
Quando começou a gostar das suas obras soube logo que era
aquilo que queria fazer profissionalmente?
Sim. Quando vi que tinha algum talento, soube logo que era
disso que eu queria viver. E como da primeira vez que coloquei os meus quadros
para vender, vendi logo seis ou sete… Foi uma experiência positiva que me
motivou a ir em frente.
Tem ideia do número de quadros que já pintou?
Já devo ter pintado cerca de 12 mil quadros. O meu record
foi pintar 2 mil quadros em dois meses. Já viram como eu sou rápido? (risos)
Mas eu ofereço muitos quadros, já que hoje em dia as pessoas não compram
quadros, têm que comprar comida para viver. Eu faço-o porque gosto de pintar,
mas é claro que também gosto de vender. Mas pondo o dinheiro de parte, tenho
gosto pela pintura.
De todos os que já pintou, consegue escolher um favorito?
Bem não é fácil. São tantos quadros… Mas talvez um quadro
que pintei de Jesus Cristo. Tenho uma maneira diferente de encarar a figura de
cristo, bem diferente do que as pessoas costumam retractar.
Eu nunca tive um estilo único que me pudessem definir, nem
clássico, impressionista, abstracto… Eu sou um criador, sou eu quem cria os
quadros na minha mente, não copio nada. Faço coisas de memória e de imaginação.
Acho que é isso que me caracteriza como pintor. Eu não sou o melhor pintor de
Portugal, de longe, nada disso, mas sei que tenho algum valor como pintor.
Qual foi o quadro que demorou mais tempo a pintar?
Desse lembro-me bem. Foi o “Paraíso Perdido”, demorei três
semanas. Era uma tela grande. Agora por norma, como eu já disse pinto rápido,
as caravelas demoram um dia a pintar, principalmente depois de já ter pintado
tantas. E sabem aqueles quadros pequenos, que são um quadrado, fiz alguns
desses em 15 minutos.
Resumidamente, como descreveria a sua carreira?
Eu acho que a minha carreira é tipo van Gogh, morrer na
miséria. Estou a brincar. Mas claro não posso deixar de achar que me podiam dar
mais valor, visto que eu sempre coloquei os meus quadros baratos, para aquilo
que a maioria das pessoas paga por um quadro original. Houve épocas que ganhei
algum dinheiro, gastei bastante, mas hoje em dia estamos a atravessar um
período muito complicado… É normal. Mas não me queixo da vida que tive.
Hoje em dia a vontade de pintar ainda é a mesma?
Gosto de pintar claro, mas a vontade já não é a mesma. Já
vejo muito mal, só tenho visão periférica, logo tive que me adaptar. Comecei a
focar-me na pintura abstracta, porque é livre, não tenho que seguir linhas e
formas, só tenho que brincar com as cores.
Considera-se uma pessoa activa?
Acho que sim, sou uma pessoa activa. Tenho 85 anos mas
sinto-me com muito menos. Já não tenho a
mesma actividade, devido à visão tive que deixar de conduzir. Mas tudo bem,
agora ando mais a pé e até gosto. Mas eu tenho um segredo, como pouco. Não é
passar fome, é não comer grandes quantidades de comida e beber um pouco de
vinho à refeição… Comigo tem resultado!
Houve coisas que ficaram por fazer ou por acontecer na minha
vida. Construi a minha casinha na ilha em olhão. Encontrei a minha mulher,
estou completo, vivi bem. Tive coisas muito boas e outras muito más, mas faz
parte da vida. Não sou uma pessoa doente, não tenho a mesma saúde dos 20, mas
isso também é impossível.
Para além de pintar, que outras coisas gosta de fazer?
Adoro apanhar amêijoas na ilha. Gosto muito de ouvir música
clássica e de ver filmes que me fazem pensar. O meu filme favorito é talvez o
“Perfume de Mulher”, agora estou numa fase em que estou a ver os filmes antigos
portugueses. E depois, todos os que me conhecem sabem disto, gosto de fumar, a
mim sabe-me bem e dá-me prazer. Já fiz outras coisas como escultura, a minha
casa da ilha, fiz a mobília de casa, uma mesa de snooker e até uma roleta.
Se tivesse que ensinar alguém a pintar, quais as bases que
gostaria de passar?
Eu não consigo ensinar ninguém, tive uma aluna uma vez e
dava-lhe aulas de graça, mas não tenho a paciência necessária. Explicava-lhe
coisas que ela não percebia. Por isso apenas posso transmitir é que quem quiser
pintar, faça aquilo que sente, aquilo que lhe vai na alma e passe para a tela.
Eu não tenho formação em pintura, sempre consegui ter um cunho próprio, vê-se
que a pincelada é minha, já me tentaram imitar mas vê-se bem que é uma cópia,
que o quadro não é meu. Quase sempre é o quadro que puxa por nós,
principalmente no abstracto. Nunca fica acabado e se o virarmos é outro quadro
completamente diferente. Muitas vezes conseguimos melhorar e outras estragamos.
Não há palavras que descrevam uma pintura, ou sente-se ou não.
Oh… O que é que eu vou dizer, não tenho o dom da palavra. O
meu irmão Júlio Roberto, o poeta, é que o tinha! A única coisa que eu posso
dizer é, não pensem na idade que têm, pensem que não têm idade. Todos perdemos
faculdades, é algo normal. Temos que continuar a viver.
Na esplanada com Hilário Roberto
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17:28:00
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Um Grande Mestre, e um amigo.
ResponderEliminarMuita saúde e forte abraço.
Eleitão Eduardo S.P. Leitão
Adeus grande artista
EliminarAte sempre
Adeus grande artista.
ResponderEliminarA tua vida enriqueceu-nos com a tua pessoa e com a tua obra.
A riqueza do que nos deixaste é enorme e irá inspirar outros.
Para além da tua arte enorme e vasta, a tua saudável loucura inspirou-me e foi sempre motivo de admiração.
Até sempre
Antonio Paulo
Grande mestre pintor Hilario roberto
ResponderEliminarTenho 3 quadros feitos por esse brilhante MESTRE que sao o que os meus 3 filhos vao herdar,e tal como eu eles adoram a ARTE e mais ainda as obras do MESTRE Hilario Roberto.
ResponderEliminarTive o prazer de conhecer o irmao Julio Roberto bem como o Pai.
Tenho o prazer de ter um belíssimo quadro de sua autoria, com quase metro e meio de comprimento e mais de um metro de altura - Vou tomar a liberdade de, num destes dia, transcrever num dos meus sites a interessante entrevista, com a imagem do quadro - Penso que o cheguei a conhecer - Na minha vida de jornalista - de repórter da Rádio Comercial-RDP. entrevistei muitos pintores - Tenho ainda no meu arquivo alguns registos deles, que vou editando, com as suas palavras sonorizadas, na medida do possível - Parabéns pelo destaque dado a tão talentoso artista
ResponderEliminarTenho mais de vinte quadros desse grande artista e amigo pois frequentava muito a minha casa. Conheci-o há mais de trinta anos. Além de o admirar como artista e ficar maravilhada com o seu talento, também o admirava como um grande ser humano. Ficará sempre no meu coração. Vai-se o artista fica a obra tornando-o imortal. Descanse em paz grande mestre.
ResponderEliminarTive o Prazer de o conhecer pessoalmente,foi no leito pois trabalho ainda lá,grande Homem,adiquiri dois quadros e um deles foi o Último,uma tela ainda um pouco crua,mais devido as circunstâncias o amigo não pode fazer por completo naquele momento.Acabou sendo oferecido e ficando comigo, junto ficou a lembrança.mais o repeito e a admiração por esse senhor será sempre a mesma.
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