Em todas
as partes do Mundo existe uma pergunta comum a todas as crianças. “O que queres
ser quando fores grande?” Porque não perguntar antes, “o que queres ser quando
fores velho?” É urgente habituarmo-nos a responder a esta pergunta, se
realmente quisermos viver a vida como um todo, tendo sempre a noção de qual é o
nosso ponto de partida, e qual queremos que seja o nosso ponto de chegada. Se projectarmos
a nossa existência para o nosso último dia de vida e como gostaríamos de lá
chegar, torna-se mais claro o caminho que temos de seguir. Porém, somos
ensinados a projectar apenas a nossa vida adulta, o que vamos ser quando formos
grandes, e a ignorar o dia em que essa fase já passou, como se a nossa
existência física fosse realmente eterna. Como se fôssemos especiais e para
nós, o tempo fizesse a consideração de parar. Como se fosse tabu, idealizar uma
vida para quando chegarmos à idade sénior, o que vamos fazer, ser, criar ou
pensar nessa fase avançada do nosso percurso. Com longos anos de preparação,
para aquilo em que nos vamos tornar quando formos grandes, negligenciamos o
após e limitamos os nossos sonhos pela metade da vida.
Aos poucos as mentalidades estão a
mudar, e ainda bem porque senão, ficamos mais susceptíveis à frustração da
mortalidade e do tempo perdido. Quando nos apercebemos de que os anos avançaram
e afinal somos mesmo finitos e mortais como qualquer outro ser vivo, o tempo
adquire outro valor e sobre nós abatem-se os arrependimentos do que ficou para
trás por fazer, e que poderíamos ter feito. Agora se, por mais difícil que
seja, aceitarmos com naturalidade o ciclo da vida, sabendo que os nossos dias
estão contados por leis superiores à do Homem, todos os dias terão de valer
apena e aí sim, serão vividos como se fosse o último, em direcção ao nosso
objectivo máximo, o que queremos ser, onde queremos estar no nosso último dia
de vida. Mesmo que apenas consigamos uma imagem idealizada, um sonho
intangível, todos os nossos dias serão em direcção a esse sonho. Arranjando um
motivo pelo qual valha apena morrer, iremos encontrar a nossa razão de viver.
Assim a vida torna-se numa viagem na
qual estamos constantemente a fazer as malas para o dia seguinte. Para trás
ficam as portas que o ontem já fechou, os passos que já demos, a roupa que já
usámos e o tempo que já passou, enquanto que, o hoje só importa se mantivermos
os nossos olhos no horizonte do amanhã. Aquele que vive apenas o presente, cego
para o futuro, torna-se num viajante sem rumo, perdido a andar em círculos, até
que as suas novas pegadas se sobreponham às velhas e o hoje se torne igual ao
ontem, porque o amanhã não interessa. Mas, se pelo contrário, estivermos
dispostos a perseguir o amanhã, com uma visão alargada para o nosso destino
final, o rumo que temos a seguir e o caminho a construir aparecerá diante de
nós, mesmo que possa não ser o mais óbvio. Nessa visão iremos criar o sonho, e
desse sonho alimentamos a nossa história e tornamo-la real, como um escritor
que, sabendo o início e sabendo o fim, magica o desenvolvimento.
Desta forma, o envelhecimento ativo diz
respeito a qualquer pessoa., sem barreiras geracionais. Assim que expandimos os
nossos horizontes e nos abrimos às potencialidades da nossa existência, todos
os dias são dignos de serem vividos segundo uma retrospectiva, ainda que
fantasiada da vida, seguindo sonhos e paixões. E quando chegarmos a velhos,
poderemos dizer com orgulho aquilo que somos, o que fizemos para lá chegar,
fechar os olhos e descansar. Porque só somos velhos quando morremos, até lá,
seremos eternamente jovens e a velhice não passa de um estado de espírito.
O que
quero ser quando for velho? Bem sei. Como lá vou chegar? Veremos.
António
Ramos
Editorial - Quando For Velho Quero Ser...
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