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Na Esplanada Com Dr. Daniel Serrão



Nasceu em Vila Real no dia 1 de Março de 1928. Ao longo da sua vida foi um aluno brilhante e um professor magnífico. Hoje com 86 anos é reconhecido em Portugal e no estrangeiro pela sua longa carreira como médico, especializado em Anatomia Patológica e Bioética. Para além de um grande investigador, Daniel Serrão é um cativante orador, disposto a falar sobre todos os temas. Fique a conhecer melhor o médico português.

O que é que as pessoas não sabem sobre o Daniel Serrão?
Não sei, vai ser difícil. Quando eu tinha 75 anos os meus filhos decidiram oferecer-me a construção de um site pessoal na Internet. De início julguei que era uma prenda formidável mas depois é que vi que era um presente envenenado. Eu tive que fazer durante dois anos um trabalho enorme para por aquele site a funcionar. Deu-me tanto trabalho que já faz uns anos que não o actualizo. Quem quiser conhecer uma parte de mim pode ler a tese recentemente publicada de um aluno chamada “Pensamento bioético de Daniel Serrão”. No entanto dei uma entrevista ao Professor Henrique Manuel Pereira editada como “Daniel Serrão aqui diante de mim” que demorou cerca de quatro meses. Ele enviava-me as perguntas por email e eu respondia-lhe, até que aquilo deu quase 500 páginas. Ali ele perguntou-me tudo o que queria, combinamos antes que ele perguntava tudo o que queria que eu responderia sempre com verdade. Por tanto só não sabe sobre o Daniel Serrão quem não quiser, há muita informação disponível.

É verdade que costuma cumprimentar a maioria das pessoas com um abraço?
Sim e eu digo-lhe porquê… Hoje sabe-se que o abraço afectivo liberta dopamina, que é o mediador que estimula as células nervosas que criam sem saber como o sentimento de felicidade e bem-estar. Principalmente às pessoas que estão a sofrer ou tristes, em vez de palavras que não adiantam nada, ao dar um abraço silencioso ficam a sentir-se melhor.

O que é que Aveiro tem de especial para si?
O meu pai foi transferido para Aveiro por ser da oposição. Mudei-me para lá quando estava no antigo 4º ano até ao 3º ano da faculdade de Medicina. Por tanto esses 7 anos são o início e o fim da adolescência. Toda a vida intensíssima e os conflitos emoções da adolescência foram vividos em Aveiro. As primeiras grandes paixões muito líricas da altura e a paixão pela leitura. O meu pai não tinha dinheiro para comprar livros, então eu ia para uma biblioteca que havia que estava aberta das 21h às 23h. Normalmente, só eu e o segurança é que lá estávamos. Ele ficava a dormir todo esse tempo e acordava sempre na hora do fecho com os morcegos que lá passavam. Eu deixava o livro marcado para o dia seguinte. E ia-me embora. Foi naquela biblioteca que li algumas grandes obras.

É maior a paixão pelos livros ou pelas pessoas?
Gosto muito de ver pessoas. Quando vou a outro país gosto muito de observar os outros a agirem. Mas depois há a leitura… Já li muitos milhares de livros e sei perfeitamente os que li. Ainda lá tenho muitos em casa mas não vou ter tempo dos ler a todos. Sempre que posso aproveito para ler. Ainda agora fiz uma viagem de três horas e passei todo o tempo a ler.

Na sua opinião tinha dado um bom psiquiatra?
Eu acho que sim teria dado e com certeza tinha feito a minha carreira como professor de psiquiatria. Na altura não havia psiquiatria no Porto só em Lisboa. No geral os professores dessa área eram de Medicina Legal mas não tinham nenhuma formação específica em psiquiatria ou em psicologia. Quando me formei em 51 achei que tinha uma bagagem de conhecimentos de filosofia e antropologia que me permitiriam ser um bom psiquiatra na escola de Lisboa. Como isto não deu, não deu. Fui para anatomia patológica que é o extremo oposto da psiquiatria. 

Como investigador quais são os trabalhos que mais se orgulha?
A tese de doutoramento, sem dúvida. Foi sobre relações hepatobiliares. Apresentei uma teoria na altura não susceptível de ser demonstrada, mas que tinha muita argumentação a favor. A tese que eu tinha era que a partir de situações de icterícia com lesões mínimas do fígado, e o facto de não haver icterícia em lesões gravíssimas do fígado como é o caso da cirrose hepática. A explicação era que a estrutura biliar encarregada de eliminar a bílis, e a estrutura hepática encarregada de produzir a bílis, eram estruturas independentes, embora estivessem juntas no mesmo órgão. A outra teoria que espero que ainda alguém lhe pegue um dia e consiga demonstrar é relativamente à metastização de tumores malignos. A teoria era que, em qualquer tipo de tumor, células desse tumor podem libertar-se, entrar na via sanguínea, alojar-se na medula óssea e manifestarem-se muitos anos mais tarde. Estes dois trabalhos foram sem dúvida os que mais gostei de fazer.

Como se sente ao ter ensinado e partilhado conhecimentos com inúmeras gerações?
Sempre gostei muito de ensinar aquilo que sabia. Para ensinar com clareza é preciso perceber muito bem o que se está a ensinar. Eu digo muitas vezes, o professor é um investigador que ensina. Mas a investigação é obrigatoriamente de laboratório? Não, quando se está a ler um livro, ou um trabalho científico, está a raciocinar sobre ele, está a investigar. Agora o que me surpreende é encontrar antigos alunos, médicos já com 50, 60, 70 anos, e lembrarem-se de coisas que eu disse nas aulas.

Como é que se partilha o tempo livre entre 10 netos?
É formidável, ainda hoje almocei com um, que está aqui a tirar o curso de economia na Universidade Católica. Vão lá almoçar a casa, ao Domingo juntamos a família toda, eu dou-lhes os livros, falo com eles, é assim uma espécie de cumplicidade, convivemos muito e eu ajudo-os naquilo que posso e tenho sempre tempo para todos. O segredo está em que, mesmo que o tempo seja pouco, esse tempo tem de ser vivido com muita intensidade.

Diz que já deu a volta ao mundo a pé duas vezes. Quer explicar-nos isso?
É que eu ando 6 km por dia. Já faço isso há muitos anos. Um dia resolvi fazer as contas e dava aí perto de duas voltas ao Mundo. Eu ando a pé uma hora todos os dias, incluindo sábados e domingos, é fundamental na minha idade. E essa hora não é tempo perdido, é tempo ganho, porque tenho uma grande quantidade de ideias durante essas caminhadas, por exemplo para prefácios de livros.

Porque é que começou a sorrir mais na velhice?
........ Leia o resto da Entrevista em http://goo.gl/8QVwVE
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