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Duas vidas, um só palco

Quando dizemos que a reforma bem aproveitada é o momento ideal para se dedicar de corpo e alma às suas paixões, não o dizemos sem razões.


Luciano Barata é o melhor exemplo de como a reforma abre a porta à paixão. Com 64 anos, vive e respira teatro, tendo já encenado mais de 50 peças. Tão aficionado pelas artes, ninguém diria que o seu dia laboral era nas fábricas a trabalhar com maquinaria pesada. Mas como a maior parte no início da adolescência, Luciano queria aprender um ofício e dessa forma assegurar alguma estabilidade na vida. Foi aos 14 anos que começou como torneiro mecânico. Uma particularidade talvez o tenha diferenciado de muitos outros. Apenas um pequeno muro separava a sua casa do clube recreativo. Dali, Luciano cresceu a ver espectáculos, bailes, e recitais de poesia. A ligação à cultura foi como que natural. “A poesia sempre fez parte da minha vida. A primeira vez que vi um espectáculo de poesia, as lágrimas começaram-me a cair, tinha cerca de 15 anos”. 

Da poesia, passou a fazer pequenos sketches sem cenários. Com Jorge Marques trabalhava certas peças de teatro, no entanto a semente já estava plantada e a germinar. Um admirador inabalável de Zeca Afonso e opositor ao regime, recorda o cuidado que nessa altura se tinha de ter. “A primeira vez que ia ver Zeca Afonso, ele não chegou a sair do carro. A rua estava cheia de polícia à espera dele.” Aos 18 anos, ia declamar o poema Hiroxima de Manuel Alegre, mas também por causa da GNR foi impedido. Esteve em Luanda a cumprir serviço militar e devido aos seus conhecimentos de mecânica, ficou o mecânico responsável pela artilharia antiaérea. No entanto, visto ser um homem culto, ficou também responsável pela alfabetização dos soldados. Ensinava-os a ler e jogavam xadrez. Em Angola, com o grupo de militares amigos, viu 555 filmes e nunca abandonou o teatro, tendo lá visto 18 peças. Quando voltou para Portugal, estudou Química, Física, Geografia e Matemática e só depois do 25 de Abril é que largou os sketches e fez a sua primeira peça de teatro com princípio, meio e fim. Em 1979 Luciano tirou um mês de férias da fábrica e foi para Tróia tirar o seu 1º Curso de Formação Teatral no Fundo de Apoio a Organismos Juvenis. Luciano viveu durante anos duas vidas paralelas, a profissional e a sua vocação. “A partir das 18h é que começava a viver.

Leia online o resto desta reportagem em : http://goo.gl/th4uJq




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