Luís Soares de 76 anos, é fotógrafo há mais de 58 anos e dono de um dos poucos estúdios de fotografia restantes em Portugal. Tudo começou na adolescência, quando um amigo comprou uma máquina fotográfica e o incentivou. “Comecei aos 15 anos como aprendiz na Fotografia Aviz, depois senti-me tão bem que nunca mais parei”. Aos 22, já especializado, montou o seu próprio negócio na casa onde vivia.
“Ao princípio foi difícil, mas depois as pessoas foram-me conhecendo e lá foi crescendo. Quando era aprendiz ía buscar café a um oficial e acabei por ser patrão dele.” Luís era contratado para vários trabalhos, casamentos, retractos e fotos tipo passe eram as mais comuns. Mas um dos seus grandes sonhos nunca se proporcionou, o fotojornalismo “O meu sonho era ser fotojornalista. Mas não se proporcionou. Não tinha os conhecimentos nem os contactos”. Foi também contratado para trabalhos publicitários e reportagens.
“Houve um dia que fiz três reportagens diferentes. Fotografei o metropolitano, depois uma inauguração e no São Carlos a entrega de uma medalha pelo presidente” diz Luís. Ter ganho o concurso na escolha do melhor fotógrafo da inauguração do Colégio São João de Brito levou-o ao trabalho mais marcante da sua vida. Passou a ser o fotógrafo do Colégio, e em 1966, foi enviado para África com o objectivo de fazer uma reportagem sobre as missões jesuítas em Angola e Moçambique. “Foi em 1966. Estávamos em guerra e nenhum fotógrafo lá tinha ido fazer uma reportagem. Marcou-me tudo” afirma. Acabou por ser o trabalho que Luís Soares guarda com mais carinho. Não só fez reportagens sobre os missionários e casamentos jesuítas, mas acabou, por conta própria, por retractar a vida mundana, tribos zulus e muçulmanos.
Em cabinda, deslumbrado pelas árvores Angolanas, fez uma reportagem sobre o corte das madeiras. “Uma vez saí para o mato, fui até às palhotas. Estava um indígena a trabalhar uma peça de pau-preto. Dei-lhe os bons dias e ele retribuí-me. Fiquei em pé a vê-lo trabalhar e ele, quando reparou, foi dentro da palhota e trouxe-me uma cadeira para eu me sentar. De uma educação e humildade impressionante” recorda Luís.
Em África nunca se sentiu ameaçado nem discriminado. O amor e carinho que as pessoas tinham pelos idosos foi algo que também o marcou. Quando acabou tentou fazer uma exposição das suas fotos. No entanto, a censura pôs-lhe tantos entraves que Luís desistiu.
“Havia fotos que não me queriam deixar expor. Numa foto lindíssima diziam que a preta tinha os pés descalços, na outra era porque o muçulmano tinha cara de terrorista, então não quis”. Ao voltar de Moçambique, foi contratado para fotografar umas Dragas para uma empresa holandesa. Chamaram-no para o congratular e fazer um segundo trabalho. Luís ainda se lembra da diferença na atitude ao trabalhar com holandeses. “Quando lá cheguei, apareceu o Engenheiro e disse-me, só estás aqui porque fizeste um bom trabalho, sem cunhas nem amigos. E fiquei avisado que não haviam graus académicos. O nome dele era Van Der Wel e não Engenheiro. Dizia que também não me chamava Fotógrafo Luís” conta-nos sorrindo.
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Uma paixão sem prazo de validade
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