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Uma perspectiva sobre as gerações




Editorial


Os avanços na medicina e o aumento da esperança média de vida em Portugal, têm causado efeitos na maneira como a senescência é vista pela sociedade. Por um lado, o preconceito de que o processo natural de envelhecimento celular só nos traz complicações e inibições. Por outro, não só um maior cuidado com esse processo e a preocupação de um envelhecimento saudável, como também um maior respeito pela população sénior. Podemos assistir, por parte de todas as gerações, discriminações desadequadas em relação aos idosos, num preconceito generalista que coloca todo o individuo sénior no mesmo grupo, o debilitado. Sem dúvida que é uma fase da vida que merece cuidados e pedidos específicos. Mas não são todas as fases da vida assim? Qualquer que seja a idade merece a satisfação específica dos seus requerimentos. Por exemplo, uma criança merece o acesso ao ensino, assim como um adolescente merece a liberdade necessária para descobrir o Mundo. O adulto tem direito ao acesso ao emprego para que possa constituir família e dar continuidade ao ciclo da vida. Enquanto envelhece, o seu rebento merece acesso ao ensino, depois à descoberta do Mundo. 

Apesar da mudança nas mentalidades estar em progresso também, ainda me custa crer que existam opiniões depreciativas da terceira idade, generalizando talvez o comportamento de um individuo para discriminar uma faixa etária. Assim como essa faixa etária é diferente de todas as outras e tem as suas particularidades, também o individuo as tem. Tornar inútil uma pessoa com base na sua idade e em crenças pré-concebidas, é tão errado como enaltecer a pró-actividade da juventude ignorando a grande fatia que é preguiçosa. As pessoas devem e merecem ser julgadas pela sua individualidade e não rotuladas de acordo com a sua faixa etária. Quantos comportamentos subtis e discriminatórios não teve já a mais bondosa das pessoas para com os idosos? Mesmo que sem intenção, podem tornar “coitadinhas” as pessoas que não são, ou que a partir de certa idade já nada se aprende.

Há também pessoas que, talvez envenenadas elas próprias por estigmas sociais, se descredibilizam e destroem a sua auto-estima com frases como o “já não tenho idade para isso”. Quantas pessoas chegam aos 90, cheias de sede de conhecimento e ensinamentos? Quantas vivem uma vida inteira sem o mínimo interesse pelo que quer que seja? Quantas pessoas chegam e vivem na terceira idade com uma saúde de ferro, e quantas vivem de novo a velho sem saúde? Felizmente atravessamos também uma fase em que essa visão depreciativa se está a alterar. A sociedade apercebeu-se que toda esta conversa do envelhecimento veio para ficar. Não foi assim há tanto tempo que as pessoas mal passavam dos 50. Hoje, estima-se que a esperança média de vida dos portugueses ronde os 79 anos com tendência para aumentar. A velhice não é já brincadeira nem algo que possa passar despercebida. Os “novos velhos” não são já pessoas que se possam largar simplesmente num lar sem condições. 

Com uma maior consciencialização do processo de envelhecimento, encontramos seniores mais requintados, mais intelectuais, cada vez mais úteis e com necessidades à espera para serem satisfeitas. Não obstante disso, o cuidado a ter com as pessoas, independentemente da idade, tem e deve ser personalizado, para que possa cada pessoa pertencer ao seu devido lugar e não haja espaço para a discriminação neste Mundo. O Ser Humano atingiu um patamar e um nível de conhecimento que muitas coisas que se passam no nosso planeta são já inexplicáveis e intoleráveis. Quanto se tratam pessoas idosas como descartáveis e inúteis não podemos esperar que elas sejam o contrário. Está na altura de aproveitar todas as capacidades das pessoas e dar um verdadeiro sentido à expressão “melhor idade”.  

Por António Ramos
Uma perspectiva sobre as gerações Uma perspectiva sobre as gerações Reviewed by Unknown on 07:18:00 Rating: 5

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