Ruy de Carvalho, aos 86 anos, com 66 de carreira dispensa apresentações. Foi o primeiro actor a actuar na televisão portuguesa e ainda hoje o vemos representar no grande ecrã. Venceu três cancros e as suas palavras e experiência de vida não passam indiferentes à maioria dos portugueses. Conheça melhor o homem por de trás de tantas personagens marcantes, quer na televisão quer no teatro.
- Costumamos perguntar no
início da entrevista “na esplanada com...” quem é o nosso entrevistado. Neste
caso, a pergunta será: O que é que as pessoas ainda não sabem sobre o Ruy de
Carvalho?
Não sei, eu
acho que já sabem muito sobre a minha vida. Há vários tipos de entrevistas e fofoquices
sobre mim. Sou um homem pacato, não sou nada de exibições exteriores à minha
profissão. A minha profissão já é exibicionista. De mim já viram muito, tanto
em teatro como em telenovelas, como em rádio e em todas as outras coisas que eu
participo. Sou um cidadão como os outros.
- O Ruy diz que viveu sempre a vida de forma feliz e intensa. Aos 86
anos acha que foi um privilegiado ou para encontrarmos a felicidade temos que
trabalhar arduamente?
Sou um homem feliz, já vivi momentos muito bons e momentos
menos bons, tanto a nível pessoal como a nível profissional. Profissionalmente tive
momentos económicos difíceis, a minha profissão não é dada a grandes riquezas.
As pessoas pensam que eu sou muito rico, mas só se for por me verem a
representar esse papel como profissional. Mas sou um homem feliz, tenho muitas
recordações, um passado e um futuro não muito longo pela frente. Fui um
privilegiado, principalmente na minha vida pessoal. Fui muito bem casado como
se costuma dizer e tenho dois filhos óptimos e os meus netos. Somos uma família
unida, quando um precisa, o outro está sempre presente. A felicidade tem que
estar dentro de nós. Se nós não quisermos ser felizes e formos pessimistas não
há nada a fazer. Nós temos que ser optimistas para que a vida nos corra melhor.
Temos que sorrir mais, mostrar mais vezes o nosso sorriso.
Lembro sim,
era pequenino, devia ter perto de oito anos. Foi na Covilhã a primeira vez que
pisei um palco para fazer qualquer coisa. Era uma história infantil, do género
da história da Carochinha, uma coisinha pequenina. Sempre tive contacto com a
arte, tinha actores na família, a minha mãe era pianista, por isso sempre tive
essa vontade. Depois só aos 15 anos é que comecei a praticar profissionalmente
ou com profissionais da arte de representar.
- Qual foi a sensação, depois de 66 anos de carreira e de inúmeros
prémios, diversas distinções de mérito e talento, ser afastado do Teatro
Nacional por estar reformado?
Doloroso, muito doloroso. A insensibilidade de algumas
pessoas é uma coisa dolorosa. Eu acho que todo o mundo gosta de preservar os
seus velhos. Os velhos no teatro não têm idade de reforma. Há personagens com
80 anos, acho que é preferível nesses casos ser feita por um velho com
experiência do que um actor novo. É uma decisão que eu não compreendo. Ainda
estou à espera de voltar a entrar no Teatro Nacional da maneira como disseram
que entraria outra vez. Mas gosto muito das pessoas que lá trabalham, já tive
lá duas vezes com dois grandes amigos e não desejo mal nenhum a ninguém.
- Depois de tantas
personagens e papéis, qual é que foi o mais marcante?
Tenho uma
peça que me marcou muito, tive muitas mas esta especialmente. O render dos
Heróis de José Cardoso Pires. Foi uma peça que me marcou muito mesmo. Era o
povo português, só ouvia quando queria. Marcou-me. Foi uma obra adaptada ao
Teatro mas a autoria é de José Cardoso Pires.~
- Embora não seja uma pessoa muito activa nas redes sociais, é um homem
que não tem nenhum problema em dar a cara por inúmeras causas nem de demonstrar
a sua indignação com situações actuais. Nunca se importou que pudessem deturpar
as suas palavras?
Estou sempre pronto para tudo o que seja para o bem dos meus
semelhantes. De vez em quando sou mal interpretado, com certeza que sou, mas
não tenho medo. Já me enganei com coisas que pensava que era o bem mas não
eram, mas isso faz parte da vida. Só faço coisas que acho que sejam as
correctas para fazer o bem aos meus semelhantes, agora não o faço por me
pedirem, faço sim quando sinto realmente.
- Foi presidente da
comissão executiva do ano internacional das pessoas idosas em 99. Na sua
opinião, estamos a caminhar para uma sociedade que irá respeitar mais os
seniores ou pelo contrário?
Fui sim
presidente e foi uma experiência formidável e maravilhosa. Foi uma das melhores
coisas que me aconteceu na vida, poder lidar com os rapazes e raparigas do meu
tempo. Tentei incutir-lhes o espirito da vontade de viver e exigir o respeito
por aquilo que trabalharam para o país, bem ou mal. Tive que fazer trabalho de
campo voluntário e estar em algumas comunidades. Foi um trabalho de três anos e
tal que gostei muito. É urgente que se respeite os mais velhos, porque as
pessoas esquecem-se que também vão ser velhas e um dia envelhecem também. E
como tal tem que pensar nisso, que vão ser velhas e que devem preparar a
velhice.
- A seu ver, o que é
necessário para que os portugueses abracem mais a cultura?
Não sei… Talvez
encararem a cultura como se fosse o futebol. Embora eu respeite e goste de
futebol. Apesar de também ser uma cultura, desportiva, devia haver tempo e
justiça para tudo. Se por exemplo dois estádios cheios fossem ao teatro durante
um ano, estavam sempre casas cheias no teatro.Para continuar a ler a entrevista do actor, carregue no link seguinte: http://goo.gl/l9fUvC
Na esplanada com Ruy de Carvalho
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19:39:00
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