Em todas
as edições a REVIVER procura dar a conhecer o trabalho de associações que se
destaquem pela sua qualidade, criatividade e pela vontade em influenciar
positivamente as pessoas com quem lidam. Nesta edição, fomos até à Associação
de Apoio Social Nossa Senhora d’Assunção, mais conhecida como AISA, na
belíssima Malveira da Serra, onde fomos muito bem recebidos pela Drª Sónia
Couto, Directora de Serviços da Associação.
Ao
chegarmos, rodeados por um microclima muito próprio, o ar era puro e a vida
pacata. Situada no Parque Natural de Sintra-Cascais, a natureza misturava-se
com a civilização, o tradicional com o moderno, o luxo com a simplicidade, e o
atlântico perfumava a paisagem. Junto à estrada nacional lá se encontrava a
AISA, com um terreno que cobria 28 000 m², cedido pela família Champalimaud.
Não só a dimensão do terreno, mas principalmente a área edificada e
pavimentada, torna a história da AISA ainda mais inspiradora. “A AISA teve um
início muito interessante. Começou com um grupo que se reunia ali no coreto,
onde hoje decorrem e decorriam as festas de Agosto, da iniciativa de uma
técnica de assistência social da J.F. Alcabideche, com uma outra técnica da
segurança social de Cascais. Queriam intervir na população mais idosa, e
conseguiram juntar um grupo de idosos que se reuniam num determinado dia da
semana” diz-nos Sónia Couto. Na altura, as festas eram organizadas por uma
comissão local, e houve um ano em que Carlos Nunes, um senhor que estava
imigrado na Suiça foi convidado a fazer parte da organização. “Ele aceitou mas
com um fim, que era o de melhorar as condições onde estavam reunidos aqueles
idosos e construir um Centro de Dia” continua a Directora de Serviços. Dessa
vontade começaram as angariações de verbas e a 16 de Novembro de 1997 foi
inaugurado o Centro de Dia.
A AISA,
que começou com 4 colaboradores, conta agora com 28, e já foram mais. Para a
área do envelhecimento e dependência, a associação apresenta três tipos de
respostas. Para além do centro de dia, onde os utentes têm direito às
actividades de recriação e a acompanhamento técnico especializado, como
fisioterapia, terapia da fala e psicologia, a AISA tem também um serviço de
apoio domiciliário, além de muitos outros protocolos que procuram beneficiar a
comunidade. Também várias actividades culturais são desenvolvidas, não só
direccionadas aos utentes mas também aos sócios. “Atividades de carácter
físico, mobilidade física, actividades culturais e jogo. Por exemplo, temos uma
oficina de artes que absorve também reformados da comunidade, que não são
obrigatoriamente utentes”, explica Sónia Couto.
Na AISA, fazem-se exercícios
matinais diários, de 15 minutos. A Drª Sónia Couto atribui esta evolução da
Associação e das condições dadas aos utentes, à coragem da direcção, que
arriscou ao apostar noutros tipos de intervenção, e viu o seu risco compensar.
“Sempre defendi que havia necessidade de intervirmos de outra forma, com um
trabalho de equipa em várias áreas, não só na parte social, mas sim uma visão
mais global da situação. Fui propondo isso à direcção, e eles tiveram a coragem
de avançar e apostaram numa equipa multi-disciplinar. Foi preciso coragem
porque isto implica sustentabilidade, mas desde essa altura até agora a área de
serviços técnicos tem crescido bastante” afirma.
Esta equipa permite apoiar os
utentes de outras formas, porque segundo Sónia Couto, esta visão de vários
saberes, faz com que cada colaborador se complemente, e são os utentes que
beneficiam com isso. “Quando os utentes nos chegam, é feita uma avaliação do
estado em que a pessoa nos chega. No fundo elaboramos um plano de intervenção
para integrar não só a pessoa mas também melhorar a sua qualidade de vida. É o
nosso objectivo, e sempre foi, proporcionar uma melhor qualidade de vida a
estas pessoas” refere. Apesar da importância que reconhece em todos os
colaboradores, Sónia Couto destaca o trabalho que a psicóloga da AISA faz junto
dos utentes. Pois é a psicóloga que lida diariamente com as preocupações,
problemas, expectativas e desejos dos utentes. E transmite os mesmos à
direcção, para juntos melhorarem a qualidade de vida daqueles seniores.
Das
actividades que os utentes e sócios mais gostam, são como é óbvio, os passeios.
Muitos deles sugerem locais a visitar, e a AISA realiza-as sempre que possível.
“Muitas vezes, algumas pessoas que são de longe, sugerem ir visitar a sua
terra. É muito giro porque depois quando lá chegam, conhecem toda a gente e
acabam por ser os guias turistas” diz Sónia Couto, sempre muito sorridente.
A
Associação de Apoio Social Nossa Senhora d’Assunção funciona de acordo com o
rendimento de cada pessoa, sem ter valores fixos. Como lida principalmente com
pessoas com baixo rendimento, procura oferecer à comunidade vários tipos de
programas de apoio, sendo que a REVIVER destaca a cantina social, que todos os
dias serve 50 refeições a crianças, idosos e não só. Segundo Sónia Couto, não
só satisfaz a fome a quem mais precisa, como é também uma óptima forma de criar
relações entre diferentes gerações, onde se criam verdadeiros laços de amizade
entre miúdos e graúdos.
Esta cantina criou-se, conforme a associação se foi
apercebendo das dificuldades em que algumas pessoas viviam. Também o projecto
oficina social é um programa de apoio à comunidade. Ele nasceu com o intuito de
oferecer serviços de reparações às casas de pessoas idosas, ou com poucos
rendimentos. “Não temos recebido muita procura na nossa zona mais limítrofe. Já
fizemos algumas intervenções, inclusive temos feito, e sempre que há um pedido
do concelho, nós avançamos. Não sei é se as pessoas têm ou continuam a ter
conhecimento real de que existe este projecto” refere Sónia Couto,
acrescentando “é óbvio que ele não permite grandes reparações, e às vezes nós
deparamo-nos com algumas situações em que eram precisas obras de raiz e acaba
por ser um bocadinho limitativo nesse sentido”. Este projecto, que conta com o
apoio da C.M. Cascais e de dois parceiros técnicos, pode mesmo chegar a ser
gratuito para quem não tenha quaisquer possibilidades de pagar pelo serviço.
Reconhecendo as dificuldades em que muitas pessoas se encontram, a AISA
dedica-se ao máximo em conseguir encontrar uma solução para as pessoas, e por
isso desenvolveu um protocolo com a farmácia cascais, um dos programas com mais
procura.
Neste protocolo, o estado comparticipa com 50% no valor da medicação,
também de acordo com o rendimento. Como muitas outras IPSS, a Drª Sónia Couto
diz-nos que as maiores dificuldades da AISA são de sustentabilidade. “Nós
estamos a estudar formas de conseguirmos uma maior sustentabilidade e menor
dependência. O que sentimos é que como as comparticipações dos utentes são
pequenas e o nosso serviço de qualidade, mesmo muito bem gerido é difícil.
Mesmo que queiramos fazer reinvestimentos, seja de obras ou manutenção. Quando
nos avaria uma coisa é um drama” refere com a boa disposição a que já nos tinha
habituado.
Enquanto
íamos conhecendo as instalações, Sónia Couto levou-nos a ver o coreto onde tudo
começou, que ficava no outro lado do terreno, na área dedicada às crianças.
Também nesta área o trabalho da AISA era impecável, e pudemos confirmá-lo
quando entramos na sala onde os mais pequenos se encontravam a ver um desenho
animado, tão atentos ao que se passava na televisão que nem deram pela nossa
presença. A Drª Sónia Couto fez questão de nos mostrar todos os cantos à casa,
desde a sala de fisioterapia, à cantina, à horta, inclusive o seu gabinete.
Tudo construído na base de um sonho, inspirado em conversas no coreto. O futuro
só a Deus pertence, mas os sonhos também têm a sua quota-parte. “Temos sempre
de sonhar, e devagarinho vamos construindo uma pedrinha de cada vez, porque a
AISA também se foi construindo. Temos é que nos ir adaptando à realidade do
nosso país e sermos criativos. O nosso sonho futuro seria a construção de um
lar, para fecharmos o ciclo” finaliza.
Antes de
abandonarmos a Associação, falámos com Adelina Dias de 72 anos, que é
voluntaria ali há 5 anos e é conhecida pela sua energia. “Conheço a AISA desde
o seu início. Deixei cá o meu marido. Quando me reformei vim fazer voluntariado
na cozinha, aí faço de tudo um pouco, sou quase voluntária efectiva”, disse a
rir antes de sair à pressa. Ficámos um pouco à conversa com Carlos Anastácio,
de 83 anos, que vem pelo convívio e não só. “ Há 3 anos que venho para aqui.
Venho comer e conversar com os amigos. Vejo televisão e ainda há pouco joguei
Boccia. Sinto-me bem aqui, é tudo boa gente”, afirmou sorrindo.
Quando
abandonámos as instalações da AISA, uma sensação de bem-estar e satisfação
invadiu-nos, prova de que a alegria, vontade em fazer, criar e ajudar são
contagiantes.
AISA – A Força da Solidariedade
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05:37:00
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