Que os lares para idosos em Portugal têm uma reputação
muito negativa é um facto. Nesse contexto é comum ouvirmos pessoas dizerem que preferiam
morrer a ir para um lar de idosos, o que não significa que todos os lares sejam
funcionalmente maus, incompetentes ou símbolos de tristeza, depressão,
inactividade, solidão, dor, doença e por fim, morte.
Para celebrar a recente parceria a Reviver e a Associação
Amigos da Grande Idade, juntaram-se em colaboração de forma a definir alguns
pontos essenciais e indispensáveis para o bom funcionamento e qualidade dos
lares e casas de repouso em Portugal.
Entender o que é
um lar.
A definição mais básica de lar é sinónima de casa.
Podemos definir por casa o sítio em que habitamos regularmente, o espaço
residencial em que costumamos dormir e passar algum tempo dos nossos dias. A
nossa casa é também o espaço onde nos sentimos, ou pelo menos devemos sentir
seguros, o nosso refúgio, o nosso cantinho no Mundo onde para estarmos à
vontade e em privacidade.
Seja qual for o nome que lhe queiram dar, mas um lar, uma
residencial sénior ou uma casa de repouso, tem de ser acima de tudo uma
verdadeira casa para quem lá habita. Esta tem de ser a pedra basilar de todo o
compromisso para com os seus residentes.
10 Coisas Que Um
Lar Deve Ter
1 – Felicidade e
Alegria: Este deve ser o derradeiro objectivo dos lares para idosos. Encontrar
a fonte da felicidade dentro de cada pessoa residente pode ser por vezes
difícil, mas deve ser o foco principal. Para isso o melhor é conceder-lhes o
poder de decisão sobre a sua própria vida, a serem responsáveis por eles
próprios, pois continuam a ser pessoas com personalidade, individualidade,
livres e com direito a serem ouvidas na definição das suas próprias
necessidades e vontades.
2 – Privacidade: Assim
como em casa, todos temos direito à nossa privacidade. Num lar, o quarto de
cada residente é um espaço privado, onde o residente encontra a sua identidade,
os seus pertences e as suas referências. A falta de privacidade pode resultar
em embaraço, vergonha e humilhação, algo que deve ser tido em conta quando o
objectivo é a felicidade.
3 – Independência
e Liberdade: Um lar que se preocupe com a felicidade e a dignidade humana
deve preocupar-se em dar e manter a maior independência e liberdade possível a
cada pessoa residente. Claro que estas podem estar limitadas consoante as
capacidades físicas e psicológicas de cada pessoa, no entanto estes sentimentos
de liberdade e autonomia irão reflectir-se directamente na felicidade de cada
uma das pessoas.
4 – Respeito e
Dignidade: Os tópicos anteriores assentam num valor fundamental para o
civismo e a manutenção das sociedades humanas, ou seja, o respeito. Compreender
que a pessoa não é um objecto inanimado, que tem os seus direitos, a sua
dignidade e as suas vontades próprias, respeitando-a enquanto ser humano. É
essencial a noção de que ter 80 anos não é o mesmo que ter 8 anos, e que a
pessoa merece ter uma opinião sobre como viver a sua vida e de como manter os
seus hábitos, por exemplo o hábito e a vontade expressa de fumar. Ainda existem
lares que não permitem que as pessoas fumem, ou que bebam sequer um copo de
vinho às refeições. O cuidador deve estar presente para moderar essas vontades
e não para censurar ou impossibilitar que as pessoas tenham poder de decisão
sobre si próprias.
5 – Arte e
Cultura: É inegável que o conhecimento traz alegria e felicidade. Apesar de
algumas pessoas serem preguiçosas no que toca ao seu cultivo pessoal e
intelectual, deve caber nestes casos às instituições a oferta de soluções
culturais e artísticas que promovam o conhecimento, a cultura e a criatividade.
Aqui podemos englobar tardes de cinema e de leitura, música, pintura, escrita
criativa e inclusivamente debates que se debrucem sobre várias temáticas e
estimulem os residentes a manterem-se intelectualmente activos.
6 – Afecto e
Atenção: O carinho, o afecto, a atenção, a proximidade e a criação de
ligações genuínas com os residentes são essenciais. No entanto, deve também ser
reservada uma boa dose dessa atenção e proximidade para as pessoas que não têm
queixas nem problemas de saúde, que passam muitas vezes despercebidas por não
ser fazerem “ouvir”.
7 – Sexualidade:
Ao contrário do que se possa pensar, o amor e o prazer que se retiram da
sexualidade não termina com o envelhecimento. A actividade sexual em pessoas
idosas não deve ser vista como uma anomalia mas como a celebração do amor e da
intimidade entre duas pessoas que têm direito a isso. Como tal não deve ser
depreciada nem objecto de gozo, vergonha ou embraço, deve sim ser respeitada.
8 – Inovação e
Interacção: Um dos maiores problemas de muitos lares reside na estagnação
dos conceitos e na repetição, em fazer mais do mesmo. A inovação deve ser uma
procura constante, como por exemplo a proximidade às novas tecnologias e os
benefícios que daí advêm. É impensável que existam lares em que os residentes
não têm acesso à internet, p.e.
9 – Participação
Cívica e Comunitária: A participação cívica e a integração na comunidade em
que residem tem também uma relação directa com a realização pessoal e a
felicidade. Através delas as pessoas continuam a sentir-se úteis e activas.
Esta deve ser uma preocupação dos lares para as pessoas que ainda tenham
capacidade em poder fazer parte da vida cívica, seja através de actividades
internas, seja na participação em eventos externos.
10 – Formação
Contínua dos Técnicos: Como é óbvio, os lares não são só feitos de
residentes, mas também das equipas técnicas, que também elas são constituídas
por seres humanos, com todas as virtudes e defeitos do ser humano. Motivações,
necessidades, vontades e felicidade das equipas técnicas também devem ser tidas
em conta. Contudo, é essencial que essas equipas tenham acesso a formação
contínua para que possam melhorar as suas competências e servir os residentes
da melhor maneira possível.
O Que Um Lar Não
Deve Ter
Àquilo que os lares devem ter, Rui Fontes, Presidente da
Associação dos Amigos da Grande Idade acrescenta o que é que estes não deviam
ter:
1 - Não deviam ter gerentes, provedores, dirigentes
associativos e outras chefias diversas que não sabem absolutamente nada sobre
envelhecimento, sobrepondo a sua autoridade, muitas vezes caritativa, a todo o
conhecimento científico e técnico, confundindo a gestão de um lar com a gestão
da sua casa que nem por isso será muito boa. Gente inculta e arrogante,
imprópria para pessoas idosas;
2 - Não
deviam ter directores técnicos que julgam que a sua licenciatura ou mestrado
lhe dá capacidade para gerir lares e equipas constituídas por pessoas não
servindo de modelo, não fazendo formação, não conseguindo escrever um documento
que não ultrapasse as notas do facebook, nunca tendo percebido de planeamento,
de estratégia, de organização do trabalho, de inteligência emocional e pensando
que um balancete é um horário dos comboios;
3 - Não deviam ter
normas completamente desajustadas da realidade e impeditivas de felicidade que
impõe a pessoas idosas com 70, 80 e mais anos que passem dez anos sem saber o
que é o sabor de um doce porque são diabéticos, comendo sopas amarelas todos os
dias sem sal porque são hipertensos, não bebendo vinho nem um licorzinho porque
lhes faz mal e corta o efeito da medicação, não saindo á rua durante anos
porque está vento, ou frio, ou chuva, ou sol e depois sendo empurrados para
bailes e festividades patéticas, cheios de dor que não é avaliada e carregados
de medicação para não incomodarem muito;
4 - Não deviam ter
procedimentos como começar higienes às seis da manhã para adiantar trabalho e
deitar idosos às seis da tarde outra vez para adiantar trabalho e acordá-los às
2 da manhã porque estão urinados sem perceber que não se podem dar diuréticos à
meia-noite e não se podem deitar pessoas sem irem á casa de banho;
5 - Não deviam ter como oferta principal grandes e luxuosas
construções pornograficamente caras, de modelo hoteleiro sem depois ter
enfermagem nas 24 horas, fisioterapia, avaliação de desempenho, indicadores
essenciais, tornando-as elefantes brancos, cheias de luxo e sem ninguém
lá dentro, destituídas de qualquer afecto e com um contador tipo taxímetro a
cobrar à peça todos os cuidados e serviços que obrigatoriamente deveriam estar
incluídos na oferta;
A Reviver e a AAGI-ID quiseram
deixar aqui as suas ideias que possam eventualmente fazer repensar algumas
instituições e as leve a preocuparem-se realmente com a felicidade das pessoas
ao invés dos seus interesses pessoais e institucionais. Talvez assim possamos
evoluir.
O QUE É QUE TODOS OS LARES DEVIAM TER
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02:59:00
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Faço parte da direcção do lar da minha aldeia,distribuindo amor e carinho p/aqueles que mais precisam, presumo que cumpro tanto qt me é possível. (Sei que presunção e água benta cada um toma a que quer). Porém continuo a presumir! (Tenho a certeza da minha consciência)
ResponderEliminarP/todos aqueles que possam ter dúvidas digo:
- Perguntem aos idosos! (Ou até aos colaboradores e colegas de direcção)
PS - Isto ñ é imodéstia é convicção absoluta!
Caro Domingos Fernandes, se assim é, ficamos felizes porque se todas as pessoas merecem felicidade, respeito e dignidade, os idosos residentes em lares também o merecem de certeza.
EliminarCumprimentos.
Caro Domingos Fernandes,
ResponderEliminarA Avaliação não é feita com perguntas a directores e residentes. É feita com indicadores de desempenho. e se de facto está disponível para se expor cientificamente seria interessante que avaliasse o desempenho da sua entidade com indicadores credíveis e rigorosos: numero de quedas, numero de ulceras de pressão, numero de incidentes críticos. numero de idas á urgência hospitalar, numero de internamentos hospitalares, numero de meios auxiliares de marcha, resultados de mini-mental, katz e funcionalidade, taxa de absentismo dos colaboradores, óbitos por escalão etário, taxa de ocupação, numero de dias de permanência na unidade dos residentes e, acima de tudo, de acordo com as suas preocupações de felicidade: percepção da dor por parte dos residentes. Podemos ainda falar no grau de satisfação de residentes e colaboradores, avaliado por entidade externa.
O nosso problema é de facto a presunção. às vezes não somos aquilo que desejamos ser.